quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Memórias da Vida Ideal #7

Parecia uma noite triste, mas era dia. Era quente. Era feliz.

Parecia a sombra de um colosso, mas eram as margens de um rio, límpido, claro. Via-se peixes, via-se famílias.

Parecia a sujeira incrustada nas costas de uma velha tartaruga, cansada e idosa demais para se importar. Mas era um parque, com florestas, curvas, estradas, esquilos e bem-te-vis.

Ele sentiu o coração bater e palpitar, mais forte e bruto do que havia sentido nos últimos meses. Cabelos longos, curtos, lisos, enrolados. Beijos bons, outros nem tanto. Pescoços suados, coxas suadas, mãos suadas.

Mas nenhum deles era tão lindo, perfumado, bom ou até suado quanto os dela. Era ela. E mesmo que a vida empurrasse-o para longe dela, ela é quem fazia aquela bombinha de sangue pular como uma britadeira no meio de São Paulo. 

Como a britadeira, a bombinha pulava e se esforçava para quebrar o que houvesse no caminho. Como a britadeira, era em vão. Ninguém ouvia, e até o seu condutor colocava proteções contra seus berros. Nada mais natural, pois aquele barulho era indesejado.

A noite triste virou meio-dia. A sombra virou lar de novos peixes. A sujeira tornou-se a terra onde sementes foram semeadas. E ninguém nunca mais ouviu falar daquele coraçãozinho apaixonado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário