Pela porta, ele entrava. O batente rangeu quando a tábua de madeira deu espaço ao corpo moído do rapaz. O rangido não foi nada comparado ao berro de quando a porta foi batida contra a parede. Uma chave atrapalhada foi guiada, selando a pobre tábua em seu lugar.
Mesmo com a luz apagada, aquele quartinho de tantas emoções e madrugadas era até que grande. O esforço para se trocar, escovar os dentes e deixar-se cair sobre a cama era similar, senão maior, às lutas entre Davi e Golias, Goku e Cell, e por que não, os trezentos homens de Leonidas contra o Exército de Xerxes, todas devidamente multiplicadas por fatores de peso, e somadas.
A luta valeu a pena, e a entidade que recebeu ele em seus braços ainda não foi cantada em toda a história das odes. Alguns diriam que Tolkien teria dificuldade em descrever os detalhes daquele abraço, a doçura daquele beijo. A cama, ou "lar", como os mais preguiçosos gostam de chamar, era a morada dos deuses. Se existe um palácio no Olimpo, ele não devia estar longe.
Ali fora, os gatos pulavam muros, as corujas sussurravam. As formigas, indiferentes, trabalhavam. Ali dentro, no escuro, Morpheu havia cumprido seu trabalho. Para o dia que havia sido, nosso Senhor das Areias quase não teve esforço. Estava tudo certo, não havia pálpebra que resistisse.
Duas horas antes, e tudo se explicaria. O que parecia impossível, prestes a ser concretizado. Era isso que ele sonhava, ou era isso que gostaria de sonhar. A cada inspirar, um suspirar.
E como as horas passam rápido!
Nenhum comentário:
Postar um comentário