sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Olha o que faltou

Faltou aquele sim seu
Não que você prometeu
Mas fiquei esperando
Seus lábios, sonhando

Ecoa essa voz doce
Me diz, como se fosse
Canção feita pra nós
Como se estivéssemos sós

E só entre nós dois
Se for agora, prometo
Também terá depois

Para não ficar em dilema
Há muito não escrevia
Para moça alguma, poema

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ritmo

Quando se fala em batida
A minha preferida
Não é samba, pop ou rock
Na verdade, é o toque

Seu na pele minha
Idêntica, igualzinha
Ao jeito que eu lembrava
Quando a gente passeava

Volte, volte, olhe pra trás
Seu toque à minha mente traz
O ritmo que mais gosto?
Do coração quando em ti encosto

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Memórias da Vida Ideal #7

Parecia uma noite triste, mas era dia. Era quente. Era feliz.

Parecia a sombra de um colosso, mas eram as margens de um rio, límpido, claro. Via-se peixes, via-se famílias.

Parecia a sujeira incrustada nas costas de uma velha tartaruga, cansada e idosa demais para se importar. Mas era um parque, com florestas, curvas, estradas, esquilos e bem-te-vis.

Ele sentiu o coração bater e palpitar, mais forte e bruto do que havia sentido nos últimos meses. Cabelos longos, curtos, lisos, enrolados. Beijos bons, outros nem tanto. Pescoços suados, coxas suadas, mãos suadas.

Mas nenhum deles era tão lindo, perfumado, bom ou até suado quanto os dela. Era ela. E mesmo que a vida empurrasse-o para longe dela, ela é quem fazia aquela bombinha de sangue pular como uma britadeira no meio de São Paulo. 

Como a britadeira, a bombinha pulava e se esforçava para quebrar o que houvesse no caminho. Como a britadeira, era em vão. Ninguém ouvia, e até o seu condutor colocava proteções contra seus berros. Nada mais natural, pois aquele barulho era indesejado.

A noite triste virou meio-dia. A sombra virou lar de novos peixes. A sujeira tornou-se a terra onde sementes foram semeadas. E ninguém nunca mais ouviu falar daquele coraçãozinho apaixonado.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Natiruts - Andei Só

Andei só by Natiruts on Grooveshark

Andei só pela noite
Cantei um reggae pros cachorros da rua
Andei só, pela noite
Cantei um verso daquele velho samba pra lua
Andei só, pela noite
Tudo bem a vida continua
Andei só, pela noite

Preciso demonstrar pra ela que mereço seu tempo
Pra dizer um pouco das ideias novas
Dos lugares de onde viajei
Se ela botar fé na minha história
Que é de rocha e vem do coração
Vou estender o pano mais bonito feito na ilha de
Madagascar
Um bob, um djavan, um jimmy na viola
Com humildade de quem sabe onde quer chegar
Reparei a flor no seu vestido
Só guerreiro de aura boa pode merecer
E ela parou, olhou, sorriu, me deu um beijo e foi
Embora
Não vi mais a gata mas tenho minha gaita pra me
Consolar

Andei só pela noite
Cantei um reggae pros cachorros da rua,eu,
Andei só, pela noite
Cantei um verso daquele velho samba pra lua
Andei só, pela noite

Preciso demostrar pra ela que mereço seu tempo
Pra dizer um pouco das ideias novas
Dos lugares de onde viajei
Se ela botar fé na minha história
Que é louca mas não é besteira não
Vou estender o pano mais bonito feito na ilha de
Madagascar
Um bob, um djavan, um jimmy na viola
Com humildade de que sabe onde quer chegar
Reparei a flor no seu vestido
Só guerreiro de aurea boa pode merecer
E ela parou, olhou, sorriu, me deu um beijo e foi
Embora
Não vi mais a gata mas tenho minha gaita pra me
Consolar

Andei só pela noite
Cantei um reggae pros cachorros da rua
Andei só, pela noite
Cantei um verso daquele velho samba pra lua
Andei só, pela noite
Tudo bem a vida continua

Andei só, pela noite

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Memórias da Vida Ideal #6

Uma agulha entre as costelas, cortando e rasgando, fibra por fibra. Ela aproveita, ela bebe o sangue enquanto ri e gargalha enquanto saboreia o doce manjar rubro. Não se ouve gotejar, pois as gotas não escorrem, ficam ali para sempre, presas.

O mundo ao redor continuou, ninguém se importa. Alguém gritou com ele, ele havia esquecido um copo,  o dinheiro, quem sabe se o queixo também. O telefone bambeou na orelha, ele bambeou no mundo. O chão desviava de seus pés, talvez o próprio solo um pouco arrebatado pela notícia.

Não era mais necessário um texto longo ou grandes floreios. Eram sentimentos antes que pensamentos. Não eram palavras, eram rugidos, talvez sussurros. Não se sabe como definir. A vida acaba e continua. Encerra para uns, o mundo não liga e tudo logo volta ao normal.

A morte é anormal? Não. É companheira e acalenta. Traz o descanso aos que merecem. No velório, quem cara de sofrimento? O morto é que não é. Viva e sofra, pois temos um lugar para descansar. E foi isso que ele aprendeu ontem.

Fique em paz, vô.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

É bom lembrar

Hoje eu queria descrever
Aquele tilintar leve
Que faz uma xícara
Em um pires

Aquele murmurar quente
Que faz o lençol
Nas suas coxas

Aquele cutucar seco
Dos seus saltos
No meu assoalho

Talvez seja bom lembrar
O café da manhã
Pois agora já é tarde
E à noite faz silêncio

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Memórias da Vida Ideal #5

Pela porta, ele entrava. O batente rangeu quando a tábua de madeira deu espaço ao corpo moído do rapaz. O rangido não foi nada comparado ao berro de quando a porta foi batida contra a parede. Uma chave atrapalhada foi guiada, selando a pobre tábua em seu lugar.

Mesmo com a luz apagada, aquele quartinho de tantas emoções e madrugadas era até que grande. O esforço para se trocar, escovar os dentes e deixar-se cair sobre a cama era similar, senão maior, às lutas entre Davi e Golias, Goku e Cell, e por que não, os trezentos homens de Leonidas contra o Exército de Xerxes, todas devidamente multiplicadas por fatores de peso, e somadas.

A luta valeu a pena, e a entidade que recebeu ele em seus braços ainda não foi cantada em toda a história das odes. Alguns diriam que Tolkien teria dificuldade em descrever os detalhes daquele abraço, a doçura daquele beijo. A cama, ou "lar", como os mais preguiçosos gostam de chamar, era a morada dos deuses. Se existe um palácio no Olimpo, ele não devia estar longe.

Ali fora, os gatos pulavam muros, as corujas sussurravam. As formigas, indiferentes, trabalhavam. Ali dentro, no escuro, Morpheu havia cumprido seu trabalho. Para o dia que havia sido, nosso Senhor das Areias quase não teve esforço. Estava tudo certo, não havia pálpebra que resistisse.

Duas horas antes, e tudo se explicaria. O que parecia impossível, prestes a ser concretizado. Era isso que ele sonhava, ou era isso que gostaria de sonhar. A cada inspirar, um suspirar.

E como as horas passam rápido!

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Memórias da Vida Ideal #4

Aquele dia quente e abafado, pedindo por uma brisa. Era um grito pelo ar-condicionado, que deixava de existir quando o click do botão ressoava nos ouvidos de nosso herói. Ele sentia uma moleza, um cansaço, mas não podia de deixar de agradecer pelo sol ali na janela, aquecendo suas expectativas de férias, moças e cervejas geladas. Mexeu os dedos dos pés e sentiu os grãos de areia saltitando, felizes pela comunhão entre pé e praia.

Ele coçou a cabeça enquanto via outro vídeo naquele site de vídeos, ou outra imagem engraçada naquele site de imagens engraçadas. Teve vontade de estudar, mas respirou fundo e passou. Olhou para o lado e viu um livro com a capa verde e branca. Ele lembrou que gostava de ler e sentiu vontade de abrir na primeira página, logo após lido o título.

A história era sobre esse cara, meio infeliz e essa sociedade meio infeliz, mas onde todos tinham tudo que queriam. Os desafios eram reduzidos à meras formalidades, e as levianidades eram reduzidas a infelicidades ainda maiores, algo como um cansaço evitável.

Ele sentiu vontade de ter um emprego, de viajar, de fugir. Lembrou da sua montaria, lembrou do seu companheiro de madrugadas, Pablo. Lembrou daquela moça, tão linda, que curvas. Como se chamava mesmo?

Respirou fundo e a vontade passou.