Quando menos esperava, a cabeça caía no travesseiro, e que dia! O jovem parou e pensou, tentando lembrar. O dia era longo e começava naquela aula, aquela do professor angelical. Tão angelical e mas ainda menos quando sua nova amiga. Ainda não sabia seu nome, mas conhecia detalhes indescutivelmente relevantes sobre ela. As gotas de sinapses e dendritos ainda caiam de suas sapatilhas quando eles andaram no parque, ou na praça, ou ainda naquele canteiro, ele não se lembrava bem.
Nosso herói forçou a memória para ouvir os belos lábios repetirem o nome, mas nada além da voz de trombeta celestial enchia os seus ouvidos. Ele se sentou na cama, de repente sem vontade de dormir. Como um gato ou quem sabe, um ninja, esgueirou-se pela casa, colocando uma camiseta enquanto saia. Trouxe a sua eterna escudeira e companheira de atraso, Ermengarda.
Era uma noite surpreendentemente clara, mas não havia postes na rua. Eles haviam sido removidos, e quando ele olhou para baixo, não viu nada além do reflexo metálico da Via Láctea em sua montaria. Quem havia tirado os postes da rua? E se houvesse algum buraco no asfalto? Que asfalto? Ele logo notou que pedalava sem rumo, mas sem preocupação, por sobre uma pista de madeira, polida e vinda das árvores que não sentiriam falta de suas entranhas nodosas. O chão era liso e não enfrentava resistência ao caminhar de Ermengarda.
O céu se movia sobre sua cabeça, mostrando as facetas mais longínquas do Universo próximo. Os planetas pareciam tão distantes quanto a mão poderia alcançar. Em algum lugar, as corujas demonstravam seu contentamento com a caça noturna, piando com alegria, mas ainda em tom ameaçador. Algumas voavam por perto, e parecia nítido o que diziam, mas era impossível entender. Eles pararam para observar a paisagem escura, e se sentiram parte daquilo e do nada. Tudo era trevas e tudo era luz. Era a noite, sem postes, sem asfalto, sem rumo ou vento.
O despertador o acordou, e ele foi ao banheiro escovar os dentes.
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