sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Memórias da Vida Ideal #2

Com a nuca já queimada de sol e Ermengarda a corcovear sob ele, o jovem ergueu o sorriso jubiloso à garota, que estava do outro lado da rua. Ela fingiu que não viu e olhou na direção do namorado que segurava a pequena mão entre os dedos de salsicha. Os olhos apaixonados da moça se arregalaram ao ver os neurônios do moço saindo pela orelha e escorrendo pelo pescoço musculoso.

O líquido cinzento começou a sair em jatos, fazendo a namorada se afastar um pouco, enojada. Aparentemente, o musculoso havia tentado falar, respirar e andar ao mesmo tempo. O pobre e atrofiado cérebro se reduziu à matéria constituinte, perdendo forma. Felizmente, o volume no crânio do jovem era pequeno, e os jatos logo acalmaram.

O Cavaleiro de Ermengarda havia parado para assistir a cena dantesca. Um grupo de pessoas próximas começou a pegar poças de dendritos, axônios e sinapses em conchas com as mãos, para então tentar jogar tudo de volta à caixa de armazenamento do musculoso. A namorada se afastava, soluçando com o sonho de um namorado lindo, bombado e popular destruído.

O Cavaleiro encheu o peito, ergueu a voz e chamou pela senhorita. Ela exclamou, aproveitando a oportunidade para fugir do ex-namorado aos pulinhos. A Lua cheia surgiu por entre as montanhas, enquanto agora apaixonado casal se beijava, sob os raios prateados. Eles eram jovens e a Lua estava alegre.

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