Ele mordeu seu lanche revirando os olhos, tanto pelo prazer de experimentar aquela obra de arte culinária como pelo desprazer em ouvir a enxurrada de reclamações que atingia seus ouvidos.
Em seu cérebro, era como se uma grande batalha estivesse ocorrendo entre palavras e sabores. Em alguns momentos, as palavras atacavam com força e era impossível não olhar a fonte delas, sentada ao seu lado.
Porém, as dentadas no hambúrguer artesanal coberto de queijo gorgonzola e cebola caramelizada eram como um reforço às linhas de defesa do sabor, que logo se organizavam em uma ofensiva quase letal.
À procura de algo que decidisse a batalha de vez, os olhos dele encontraram os dela. Um novo agente entrou na luta: seu coração bateu mais forte. Eram olhos simples, mas o que importava era o que vinha ao redor dos olhos. Um pequeno sorriso, cabelos penteados de lado, deixando uma cachoeira de cabelos louros e encaracolados caindo pra cá e mostrando a orelha e o pescoço pra lá.
Ela parecia se divertir com a batalha que ocorria dentro dele. Será que era tão óbvio assim?
“Venha comigo, eu te ajudo”, ele a imaginou dizendo. Que aroma teriam aqueles cabelos? Que gosto teriam seus lábios? Quão macia e quente seria a bronzeada pele?
Sensações demais, justamente o que ele precisava para desligar da torrente infindável de sons. A batalha acabou, pelo menos dentro daquela cabecinha imaginativa. Minutos depois, ele nem se lembraria do significado das palavras.
O tempo passou e a refeição terminou. Novos olhares foram trocados e ele sabia que a recíproca era verdadeira. Agora, como agir? O que fazer?
Nada, obviamente. Apenas pensar nos próximos versos a escrever.
Na parede de espelhos que se erguia atrás do balcão, ele viu toda a cena. Viu a si, viu as palavras voando em torno de sua cabeça como abelhas zangadas. E viu também uma donzela poderosa, salvando o cavaleiro indefeso.
A imagem se desfez quando a donzela chegou até ele e disse, “ a conta”. Ele tinha pedido a conta?
“Hm, você não cobrou um chopp”.
“Não está não”, ela respondeu, como se dizendo, “Você me paga depois”.
E na sua imaginação, uma nova onda de palavras atingiu o coração do dragão que ainda insistia em lutar. O cavaleiro tinha encontrado uma arma letal, capaz de atingir o coração de qualquer um.
Houve uma grande festa para comemorar a vitória naquela noite.
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